O aumento dos juros pelo Copom tentou fortalecer o real durante a semana, porém, tensões geopolíticas globais restringiram essa valorização e contribuíram para a alta do dólar.
Na sexta-feira (20), o dólar à vista iniciou o dia em queda acentuada, atingindo o valor mínimo de R$ 5,4696 nas primeiras negociações.
Essa queda na moeda americana era previsível após o aumento da taxa básica de juros, a Selic, que foi elevada para 15% ao ano pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central na quarta-feira (18), véspera do feriado de Corpus Christi.
Com esse movimento, esperava-se que o real se valorizasse frente ao dólar, impulsionado pela diferença nas taxas de juros entre Brasil e Estados Unidos.
No dia em que o Copom elevou a Selic, o Federal Reserve dos EUA decidiu manter a taxa de juros entre 4,25% e 4,5% ao ano. Com juros altos, moedas de países emergentes atraem investidores estrangeiros em busca de maior retorno. A expectativa do Copom de manter a Selic elevada por um período prolongado também favorece operações de carry trade e torna as posições em dólar mais caras, conforme apontam especialistas.
- Carry trade é uma operação comum no mercado de câmbio, em que o investidor tomar dinheiro emprestado em um país com juros mais baixos e investe em outro que tenha taxas mais altas.
A valorização do real não se manteve. Durante a tarde de sexta-feira, o dólar se fortaleceu no mercado doméstico, encerrando o dia com alta de 0,44%, cotado a R$ 5,5249, após alcançar o pico de R$ 5,5274.
A queda do real aconteceu devido ao fortalecimento do dólar no mercado internacional, especialmente frente a moedas de países emergentes e exportadores de commodities. Mesmo com a alta no final, o dólar à vista fechou a semana em baixa de 0,30%, acumulando uma queda de 3,40% em junho.
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Forças contrárias sobre o dólar
Analistas e operadores de câmbio apontam forças opostas influenciando o dólar. O principal fator que fortalece a moeda americana é o receio de escalada no conflito entre Irã e Israel, que trocaram acusações durante reunião do Conselho de Segurança da ONU na sexta-feira (20). A Casa Branca informou que Donald Trump decidirá sobre a participação dos EUA no conflito nas próximas duas semanas, afirmando que não permitirá que o Irã tenha arma nuclear.
Na madrugada de sábado (21), o exército israelense declarou ter atacado uma instalação nuclear iraniana, eliminando três comandantes em ataques focados em dois locais de produção de centrífugas nucleares, segundo oficial militar israelense.
A tensão geopolítica aumenta a aversão ao risco no mercado, elevando a busca por ativos considerados seguros, como o dólar. Cristiane Quartaroli, economista-chefe do Ouribank, destaca que o dólar tem um leve ajuste para cima devido a esse cenário.
Por outro lado, a alta dos juros favorece o real. Andrea Damico, economista-chefe da Armor Capital, comenta que o Copom está disposto a retomar aumentos da Selic se necessário e manterá uma política monetária restritiva por tempo prolongado, beneficiando o desempenho do real em comparação com outras moedas emergentes.
Recentemente, o real passou por um rali que levou a cotação para cerca de R$ 5,50, acumulando valorização de 12,18% no ano. Pesquisa do BTG com 76 agentes financeiros antes do Copom indicou que mais de 90% esperam que o real se mantenha abaixo de R$ 5,70 nos próximos seis meses.
Apesar da valorização recente diante da crise geopolítica, investidores continuam apostando na desdolarização frente às políticas adotadas por Donald Trump.