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Produtores dos EUA ainda veem vantagem para o Brasil na soja, apesar de trégua comercial com a China

Uma inesperada pausa nas tarifas entre Pequim e Washington não facilitará a venda de soja pelos agricultores norte-americanos na China sem concessões adicionais, afirmaram os produtores, pois o Brasil, que é o principal fornecedor, continua a ter uma vantagem competitiva em termos de preço.

Conforme a trégua anunciada na segunda-feira (12), os Estados Unidos irão reduzir as tarifas adicionais sobre as importações chinesas de 145% para 30% nos próximos três meses, enquanto as tarifas chinesas sobre produtos dos EUA cairão de 125% para 10%.

Os prêmios de exportação da soja brasileira diminuíram com essa redução nas tarifas, refletindo as expectativas de que a China poderia aumentar suas compras da oleaginosa americana.

No entanto, os agricultores norte-americanos afirmaram que a pausa nas tarifas não é suficiente para ajudá-los. O Brasil, como principal fornecedor de soja para a China, conta com grandes estoques de uma safra recorde e seus produtores não enfrentam as tarifas chinesas que incidem sobre os concorrentes dos EUA. A China, sendo o maior importador de grãos do mundo, já obtém cerca de 70% de suas importações de soja do Brasil.

“A tarifa que ainda se aplica à soja dos EUA é bastante significativa”, comentou Caleb Ragland, agricultor de Magnolia, Kentucky, e presidente da American Soybean Association. “Os produtos adquiridos de nossos concorrentes no Brasil e na Argentina não têm esse custo adicional.”

A importância da China para os EUA na soja

Embora os Estados Unidos tenham representado cerca de 28% das importações de soja da China na safra 2022/23, esse mercado é vital para os agricultores norte-americanos, respondendo por mais da metade das exportações de soja dos EUA no último ano comercial.

A guerra comercial iniciada pelo presidente Donald Trump prejudicou as vendas de soja, sorgo e produtos suínos para a China, criando uma oportunidade para o Brasil expandir sua presença no mercado.

De acordo com Luis Rua, responsável pelo comércio exterior do Ministério da Agricultura brasileiro, o Brasil planeja aumentar suas exportações agrícolas para a China, incluindo sorgo, carne suína e frango, buscando conquistar uma maior fatia desse mercado.

“Os produtos que eles (a China) comprarão são apenas o mínimo necessário para sua sobrevivência”, afirmou Dan Henebry, agricultor de milho e soja em Buffalo, Illinois. “Se a América do Sul enfrentar dificuldades… eles acabarão comprando de nós.”

Recentemente, compradores chineses também evitaram o trigo dos EUA, adquirindo entre 400.000 e 500.000 toneladas da Austrália e do Canadá, conforme relatado por comerciantes.

Os agricultores americanos esperam que a China volte a comprar produtos agrícolas dos EUA. No entanto, importadores chineses podem hesitar em realizar grandes compras devido às barreiras comerciais ainda existentes e à incerteza sobre o futuro após o término da trégua, conforme explicou Even Rogers Pay, analista agrícola da Trivium China.

“Existem diversos fatores que impedem que essa pausa na guerra comercial seja benéfica para os agricultores”, destacou Pay.

A carne suína dos EUA que é exportada para a China ainda enfrenta uma tarifa mínima total de 57% durante essa pausa, segundo o Conselho Nacional de Produtores de Carne Suína.

Essa trégua deve terminar pouco antes do início da colheita de soja e milho nos Estados Unidos, um período crucial para as exportações. Os agricultores plantaram menos soja nesta primavera em comparação ao ano anterior, pois a safra parecia menos lucrativa em relação à do milho.

“Se as negociações falharem, os compradores correm o risco de perdas quando as cargas chegarem durante a temporada de comercialização da soja nos EUA”, comentou um processador de soja chinês. “Não vale a pena correr esse risco.”

A pausa pouco fez para resolver os problemas subjacentes que originaram a disputa, incluindo o déficit comercial dos EUA com a China. Pequim não cumpriu os compromissos de aumentar as compras de produtos agrícolas americanos estabelecidos em um acordo comercial com Trump durante seu primeiro mandato em 2020.

“A situação já era complicada antes de começarmos e precisava ser resolvida. E ainda continua complicada”, disse Ron Heck, produtor de milho e soja em Perry, Iowa.

Naquele período, a China havia reduzido suas compras de grãos americanos, levando o governo Trump a destinar bilhões de dólares em ajuda aos agricultores.

“Parece que não conseguimos resolver nada após toda essa turbulência”, lamentou Henebry. “Estamos novamente na mesma situação, tentando ver se conseguimos um home run ou se vamos falhar novamente.”

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