O Goldman Sachs revisou para baixo suas projeções de lucro para o Banco do Brasil (BBAS3), devido a uma piora adicional na qualidade dos ativos da carteira rural.
Os créditos inadimplentes rurais do banco subiram de 0,5% no 4T22 para 3,0% no 1T25 e devem continuar em alta no 2T25.
As provisões, por sua vez, ficaram abaixo do crescimento dos créditos inadimplentes e devem aumentar significativamente nos próximos trimestres. Desde a divulgação dos resultados do 1T25, as ações caíram 27% e agora são negociadas a 0,7 vezes o valor patrimonial dos últimos 12 meses. Mesmo com possíveis riscos até que haja maior clareza sobre os lucros, as estimativas consensuais para o lucro por ação (EPS) já recuaram 20% no último mês. O retorno sobre patrimônio líquido (ROE) deve atingir seu ponto mais baixo no 2T25, em 11,9%, com recuperação gradual prevista posteriormente, conforme análise de Tito Labarta, Tiago Binsfeld e Lindsey Shema.
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Os analistas mantêm a recomendação neutra para o papel, porém ajustaram o preço-alvo de R$ 25 para R$ 23, representando um potencial de valorização de 7,73%. Eles destacam um dividend yield adicional de 6%. Atualmente, a ação está cotada a 4,8 vezes o P/L estimado para 2025 e a 0,6 vezes o P/BV esperado para o mesmo ano, apresentando um desconto maior em relação aos bancos privados do que a média histórica.
BBSA3: O corte nas estimativas para 2025, 2026 e 2027
Os analistas do Goldman Sachs reduziram suas projeções de lucro líquido recorrente em 20% para 2025, 12% para 2026 e 4% para 2027. Eles esperam que a empresa adote uma postura mais conservadora, o que deve desacelerar o crescimento da carteira de crédito. A previsão atual é de um lucro líquido de R$ 25,6 bilhões para 2025, valor 31% inferior ao limite inferior da faixa anterior de guidance (R$ 37-41 bilhões), que está em revisão. As novas estimativas indicam ROEs de 13,6% em 2025, 16,4% em 2026 e 17,3% em 2027.
As projeções estão 15% inferiores ao consenso da Bloomberg para 2025, 3% abaixo para 2026 e 1% acima para 2027.
Inadimplência deve seguir pressionando lucratividade
Os créditos rurais inadimplentes com prazo de 90 dias no Banco do Brasil apresentaram aumento contínuo no último ano, afetando todos os segmentos.
A maior parte do crescimento nas provisões (48% no 1T25) decorreu dos NPLs rurais, que subiram 180 pontos base em relação ao ano anterior, alcançando 3,0% no 1T25. Além disso, os NPLs do varejo rural cresceram mais 30 pontos base em abril, chegando a 3,1% no sistema, com tendência de alta nos próximos meses, segundo a administração.
O índice inicial de NPLs no varejo rural foi um dos poucos que aumentou em abril, subindo 50 pontos base para 2%.
“O Banco do Brasil é o mais exposto à piora na qualidade dos ativos rurais, com 33% da carteira de crédito direcionada ao agronegócio, contra 7% no Bradesco e 3% no Santander Brasil. O Itaú Unibanco não divulga a exposição exata, mas provavelmente é similar aos demais bancos privados. Além disso, 96% da carteira agro do BB é destinada a produtores individuais, enquanto nos bancos privados essa participação é cerca de 50%. A formação de NPLs chegou a R$ 14,3 bilhões no 1T25, representando 5,2% da carteira média”.
O Goldman atribui o aumento significativo dos créditos rurais inadimplentes à combinação de superprodução após uma safra forte em 2021/2022, preços elevados das commodities devido à guerra na Ucrânia e eventos climáticos extremos em 2023/2024, que resultaram em mais pedidos de recuperação judicial no último ano.
Provisões devem crescer em 2025
De acordo com os analistas do Goldman, as provisões do Banco do Brasil não acompanharam o aumento dos créditos inadimplentes. No 1T25, o banco reservou apenas 71% do valor dos NPLs formados, percentual inferior aos 81% dos três trimestres anteriores e aos mais de 90% observados anteriormente.
Por isso, a expectativa é de um aumento significativo nas provisões, chegando a R$ 13,7 bilhões no 2T25, com manutenção em patamares elevados até o fim do ano. O custo de risco deve alcançar 4,9% antes de começar a diminuir. A projeção para as provisões totais em 2025 é de R$ 49 bilhões, o que representa 17% acima do teto da estimativa inicial (R$ 38-42 bilhões), que está sendo revisada.
Ainda assim, os analistas destacam que a previsão é incerta, pois a administração do banco não tem clareza sobre quando os NPLs rurais vão atingir seu ponto máximo.
Pressão para margem financeira e ROE
O aumento esperado nas operações classificadas como estágio 3 deve impactar negativamente a margem financeira líquida, pois o banco não pode contabilizar juros dessas operações conforme a resolução 4966, mesmo com 38% dos empréstimos dessa categoria sendo pagos pontualmente.
Ainda assim, prevê-se uma recuperação gradual da margem financeira líquida à medida que o banco assimila os custos maiores de captação do 1T25 e mantém um crescimento do crédito de 5,8%, próximo ao limite inferior da faixa projetada de 5,5% a 9,5%. Além disso, o banco poderá recuperar parte da receita de juros com a renovação dos financiamentos rurais e a retomada dos pagamentos pelos produtores.
A projeção é de uma margem financeira líquida de R$ 100 bilhões para o ano, cerca de 10% abaixo do limite inferior da previsão inicial de R$ 111 a R$ 115 bilhões, também em revisão. Com isso, espera-se um ROE de 13,6% para 2025, com recuperação gradual para 16,4% em 2026 e 17,3% em 2027.