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Com R$ 1,3 bilhão em ativos, Brasil vira referência em tokenização

Em 2024, o volume de ativos tokenizados no Brasil alcançou R$ 1,3 bilhão, com um crescimento de 300% nas ofertas por meio de crowdfunding, segundo dados da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Além disso, há uma projeção de que o mercado global atinja US$ 16 trilhões até 2030, conforme apontado pela BCG.

Esses números indicam que a tokenização de ativos no Brasil deixou de ser uma mera perspectiva futura e se consolidou como uma realidade em plena expansão.

Cada vez mais, investidores, empresas e reguladores reconhecem a tecnologia blockchain como uma ferramenta estratégica para resolver ineficiências históricas do mercado financeiro e aumentar o acesso ao capital.

Esse setor está em crescimento e repleto de oportunidades. O avanço da tokenização se deve não apenas à tecnologia em si, mas também a uma rara convergência entre os agentes do mercado e os reguladores — algo ainda incomum em muitos outros países. Essa foi uma das conclusões do relatório “Tokenização no Brasil – Um estudo qualitativo”, um mapeamento inédito realizado pela ABcripto sobre o estado atual desse mercado no país.

O documento oferece uma análise detalhada de casos concretos, modelos regulatórios, desafios jurídicos e o potencial transformador da tokenização, proporcionando uma visão técnica e propositiva sobre como essa agenda pode se expandir no Brasil.

Apesar dos desafios, como a insegurança jurídica de certos modelos e a liquidez ainda restrita no mercado secundário, o Brasil se destaca como um verdadeiro laboratório para a aplicação da tokenização na economia real. O país não está apenas explorando ideias; está colocando soluções em prática.

A pesquisa foi elaborada com base em entrevistas com especialistas da criptoeconomia, além da análise de dados e regulamentações recentes. Com isso, identificamos um ecossistema em rápida evolução, sustentado por três pilares:

  • uma infraestrutura de pagamentos atualizada, como o Pix, que possibilita a criação de novos modelos de negócios;
  • uma regulação colaborativa, onde a CVM e o Banco Central estão priorizando o diálogo;
  • e a inovação das empresas brasileiras, que têm buscado na tokenização uma nova forma de gerar valor.

Esse ecossistema se desenvolveu devido à escolha do Brasil por uma regulação favorável à inovação. A CVM, através da Resolução nº 88, estabeleceu diretrizes para ofertas públicas via crowdfunding. O Banco Central está criando o Drex, o real digital, que terá aplicações diretas na automação de transações tokenizadas. Além disso, a Lei nº 14.478/2022 instituiu um marco legal para ativos virtuais, exigindo que prestadores de serviços obtenham autorização e sigam normas de compliance.

É nesse contexto que surgem soluções como tokens de recebíveis, imóveis fracionados, ativos do agronegócio, créditos de carbono e direitos de imagem esportivos, todos proporcionando ganhos em liquidez, automação e rastreabilidade.

O estudo da ABcripto apresenta exemplos concretos de iniciativas que estão implementando a tokenização em diferentes setores da economia. Um caso notável é a criação de um ecossistema onde tokens lastreados em grãos são utilizados como meio de pagamento, com operações já abrangendo 616 mil hectares com tokens agrícolas.

Outra iniciativa visa o mercado institucional e de varejo por meio de tokens lastreados em ativos imobiliários, com um rendimento médio de 137,5% do CDI e mais de R$ 4 milhões pagos a investidores até 2023. Em 2024, foi lançado um token vinculado ao dólar para facilitar a dolarização das carteiras.

No setor de crédito, uma plataforma especializada na estruturação de tokens conseguiu reduzir o custo de capital em 17% e as despesas operacionais em 35% em operações com duplicatas. Além disso, captou R$ 10 milhões com tokens do agronegócio e realizou a primeira emissão de CCB tokenizada, trazendo a lógica dos tokens para o mercado imobiliário com modelos de propriedade digital que oferecem governança, liquidez e possibilidade de uso como garantia.

Tokenizar um ativo vai além da sua digitalização; trata-se de criar uma camada de interoperabilidade, confiança e automação que possibilita a negociação eficiente e transparente de diversos bens – como imóveis, precatórios e notas comerciais – beneficiando tanto grandes gestoras quanto pequenos investidores e empresas que estão fora do mercado tradicional de capitais.

Com a chegada do Drex, a regulamentação dos prestadores de serviços de ativos virtuais e a crescente educação dos investidores, temos uma oportunidade única para transformar a tokenização em um verdadeiro motor de inclusão financeira e inovação no Brasil.

A ABcripto continuará atuando como intermediária entre os agentes do mercado, reguladores e a sociedade civil. O estudo que lançamos é uma contribuição valiosa para esse debate e um convite para que o Brasil solidifique sua posição como referência global na tokenização de ativos.

O momento é propício. O país já demonstrou ter ambição, talento e um ambiente favorável. Agora é preciso acelerar – sempre com segurança, responsabilidade e uma visão voltada para o futuro.

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