Com um endividamento alto e resultados decepcionantes no primeiro trimestre de 2025, os analistas da Ágora e do Bradesco BBI decidiram reduzir a recomendação das ações de “compra” para “neutra”.
“Senhores passageiros, as máscaras de oxigênio estão caindo automaticamente. Coloquem-nas sobre o nariz e a boca e respirem normalmente.” Essa mensagem, que normalmente é ouvida em situações críticas durante um voo, pode ser aplicada ao atual momento da Azul (AZUL4), que enfrenta grandes desafios.
Diante desse cenário complicado, Bradesco BBI e Ágora Investimentos optaram por rebaixar a recomendação das ações da companhia de “compra” para “neutro”, estabelecendo um preço-alvo de R$ 1,30 — o que sugere uma valorização potencial de 25% em relação ao fechamento da última sexta-feira (23).
Com um endividamento elevado e resultados insatisfatórios no primeiro trimestre de 2025, as ações da companhia já sofreram uma queda de mais de 66% em apenas um mês. No acumulado do ano, a desvalorização atinge impressionantes 70%.
Por que as ações da Azul foram rebaixadas?
Um dos principais motivos que levaram ao rebaixamento da recomendação foi o aumento do risco de que a Azul precise passar por uma nova reestruturação financeira, devido a alguns fatores que geram preocupação entre os analistas.
Atualmente, um dos grandes desafios da empresa é o atraso na liberação de um financiamento com apoio do governo, considerado crucial para sua liquidez.
A companhia está buscando levantar até R$ 2 bilhões em crédito com a aprovação de Brasília para fortalecer seu caixa. A proposta apresentada pela Azul inclui o uso do Fundo de Garantia à Exportação (FGE) como garantia para facilitar a captação de recursos no setor privado.
Em contrapartida, a empresa se comprometeria a adquirir volumes adicionais de SAF (Combustível Sustentável de Aviação), que é uma alternativa mais ecológica ao querosene convencional.
No entanto, esse mercado ainda é bastante incipiente no Brasil, e a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) já sinalizou sobre a limitação na oferta, sugerindo que as condições da contrapartida sejam flexibilizadas.
Enquanto isso, a proposta ainda aguarda a aprovação da Câmara de Comércio Exterior (Camex), que irá estabelecer os critérios do pacote.
Além disso, os analistas estão alertando sobre as negociações com credores para obter financiamento que possa apoiar a companhia em um possível processo de recuperação judicial (RJ).
Dessa forma, aumentam as preocupações de que os desafios enfrentados pela Azul não devem se dissipar tão cedo.
Os analistas também ressaltam que a oferta da empresa para converter aproximadamente R$ 1,6 bilhão em títulos de dívida com vencimento entre 2029 e 2030 em ações teve baixa aceitação entre os investidores, frustrando as expectativas da Azul de aliviar sua estrutura de capital.
Para agravar a situação, os resultados do primeiro trimestre deste ano foram inferiores ao esperado. O Ebitda (lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização) apresentou uma queda de 2% em relação ao ano anterior, impactado negativamente pela desvalorização de 18% do dólar em relação ao real.
Isso resultou em uma queima de caixa de R$ 313 milhões nas operações e levou a Azul a encerrar o período com uma posição de caixa de R$ 655 milhões, o que representa uma redução de 49% em comparação ao último trimestre de 2024.
“Em nossa perspectiva, o fluxo de caixa até o final do ano é limitado. A liquidez da Azul dependeria da liberação dos R$ 2 bilhões por parte do governo para serem utilizados como garantia para novas dívidas. Isso pode ocorrer, mas tem sido adiado repetidamente nos últimos meses”, afirmam os analistas da Ágora e Bradesco BBI em seu relatório.
Azul (AZUL4) está em negociação com credores para uma possível RJ?
Em um comunicado divulgado na última sexta-feira (23), a Azul afirmou que não formalizou nenhum acordo ou instrumento financeiro relacionado a um possível financiamento para lidar com um eventual processo de recuperação judicial.
A declaração foi feita após uma reportagem do Valor Econômico, que indicou que a companhia estaria em negociações avançadas com credores para captar cerca de US$ 600 milhões e fortalecer sua liquidez, considerando o aumento do risco de reestruturação. A Bloomberg informou que o anúncio da operação pode ocorrer já na próxima semana.
De acordo com a agência de notícias, a companhia aérea está avaliando diferentes opções para sua reestruturação, incluindo o “Chapter 11”, que é um mecanismo de recuperação judicial utilizado nos Estados Unidos.
Desde a semana passada, o mercado tem especulado sobre uma possível recuperação judicial. As concorrentes Gol (GOLL4) e Latam já utilizaram esse mecanismo, que oferece proteção contra credores.