Azul (AZUL4) e Gol (GOLL4) estão seguindo direções opostas. Enquanto a Gol espera concluir seu processo de recuperação judicial nos Estados Unidos (Chapter 11) no próximo mês, a Azul anunciou nesta quarta-feira (28) a sua entrada nesse mesmo processo.
Esse desencontro acontece em meio ao planejamento de fusão entre as duas companhias aéreas, que foi anunciado em janeiro deste ano, com a assinatura de um Memorando de Entendimentos Não Vinculante (MoU).
O analista Ricardo França, da Ágora Investimentos, acredita que o início do Chapter 11 pode interromper o acordo entre as empresas, pelo menos até que a Azul consiga se desvincular desse processo. Até agora, nenhuma das companhias fez uma declaração oficial sobre a fusão.
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De acordo com fontes próximas à situação, a Azul está totalmente concentrada em entrar e sair rapidamente do processo de recuperação judicial.
Se a fusão for efetivada, a Azul e a Gol continuarão a ter seus certificados operacionais de forma independente, mas funcionarão sob uma única empresa resultante que será listada na Bolsa. Na prática, isso significa que haverá uma única entidade — registrada na Bolsa — com duas companhias aéreas, preservando as marcas já estabelecidas.
Recuperação judicial da Azul
Embora tenha iniciado o processo de Chapter 11, a Azul argumenta que sua situação é “diferente de qualquer outra reestruturação de companhias aéreas na América Latina”.
A justificativa, segundo a empresa, é que entrou no processo já com acordos estabelecidos com diversos parceiros. De acordo com o comunicado enviado ao mercado nesta quarta-feira (28), a companhia começou uma reestruturação pré-acordada para possibilitar acordos que envolvem cerca de US$ 1,6 bilhão em financiamento DIP (debtor-in-possession).
O financiamento DIP é uma modalidade de crédito destinada a empresas que estão passando por recuperação judicial, com o objetivo de fornecer os recursos necessários para que continuem operando e alcancem suas metas. No caso da Azul, a intenção é reduzir a dívida e aprimorar sua estrutura financeira.
A companhia destaca que esse compromisso de financiamento permitirá não apenas o pagamento de parte da dívida existente, mas também a injeção de cerca de US$ 670 milhões em capital novo para fortalecer sua liquidez durante e após o processo.
“Na conclusão da reestruturação, os acordos estabelecem que o financiamento DIP será quitado com os recursos de uma Oferta de Direitos de Ações de até US$ 650 milhões, apoiada por alguns parceiros financeiros, além de um investimento adicional em equity de até US$ 300 milhões pela United Airlines e pela American Airlines, condicionado a certas exigências”, afirmam.
A Azul acredita que já está bem posicionada para enfrentar esse processo e possui um plano claro para sua conclusão. Segundo fontes próximas à situação, devido à estrutura já estabelecida, a expectativa é que o processo não se prolongue, podendo ser finalizado em até um ano.