No começo deste ano, uma possível fusão entre a Azul (AZUL4) e a Gol (GOLL4) chamou a atenção no cenário corporativo. Contudo, a finalização do Chapter 11 (recuperação judicial nos EUA) da Gol era uma das condições essenciais para que as negociações avançassem.
Alguns meses depois, o panorama mudou: enquanto a Gol se prepara para encerrar o processo em junho, a Azul anunciou sua entrada na recuperação judicial — completando assim o ciclo de companhias aéreas dominantes no Brasil que recorreram a esse recurso. Essa se tornou a principal prioridade da empresa neste momento.
Em uma coletiva com jornalistas nesta sexta-feira (30), Fabio Campos, vice-presidente institucional e corporativo da Azul, destacou que o foco atual é “100% na reestruturação”.
Campos esclareceu que o Memorando de Entendimentos Não Vinculante (MoU) firmado entre as companhias em janeiro continua válido e em curso, mas a prioridade atual é diferente.
Analistas do mercado já haviam sinalizado a possibilidade de um atraso nas negociações devido ao processo de Chapter 11. A XP Investimentos observa que esse processo depende, em parte, da finalização das renegociações da estrutura de capital de ambas as empresas, o que pode resultar em um adiamento.
Chapter 11 da Azul
Embora a fusão entre as grandes companhias do setor aéreo brasileiro tenha ficado em segundo plano, a expectativa é que essa situação mude em breve.
Fabio Campos ressalta que a questão do prazo é distinta em comparação com outros processos, já que a Azul está iniciando essa fase com o suporte de seus principais stakeholders (partes interessadas).
“Com esse suporte, acreditamos que teremos um cronograma diferente para essa situação. Nossa expectativa é finalizar toda a fase inicial até o final do ano e sair completamente desse processo no início do próximo ano”, afirmou ele aos jornalistas.
De acordo com o executivo, a diferença está no apoio que a companhia conseguiu estruturar, envolvendo parceiros comerciais, financeiros e arrendadores.
A Azul já estabeleceu os chamados acordos de apoio à reestruturação com seus principais parceiros financeiros, incluindo seu maior arrendador de aeronaves, a AerCap, além das companhias aéreas United e American Airlines.
Esses acordos preveem um compromisso de cerca de US$ 1,6 bilhão em financiamento ao longo do processo e a eliminação de US$ 2 bilhões em dívidas, além de até US$ 950 milhões em financiamento adicional garantido em ações ao final do processo.
Primeira audiência já foi
Na quinta-feira (29), a companhia realizou sua “Audiência Inicial” em Nova York. A Azul obteve todas as aprovações judiciais necessárias para suas petições de “Primeiro Dia” relacionadas ao pedido de Chapter 11.
Entre as decisões tomadas, o Tribunal autorizou a Azul a ter acesso imediato a US$ 250 milhões de seu financiamento DIP, que totaliza US$ 1,6 bilhão.
“Esse financiamento, juntamente com outras aprovações judiciais e as receitas geradas pelas operações em andamento, proporcionará a liquidez necessária para manter as operações sem interrupções enquanto a Companhia trabalha para reestruturar seu futuro financeiro”, afirmou a empresa.