Enquanto alguns investidores estão aumentando suas expectativas em relação a um aumento de 0,25 ponto percentual na taxa Selic na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o estrategista-chefe da Monte Bravo, Alexandre Mathias, considera essa possível ação irrelevante.
“Não faz sentido o Banco Central elevar ainda mais os juros; seria uma medida sem propósito”, declarou Mathias nesta sexta-feira (6), durante um painel sobre investimentos no Monte Bravo Experience.
A opinião do estrategista se opõe à percepção do mercado nos últimos dias. Investidores se apressaram a se reposicionar após declarações recentes do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, que mencionou em um evento em São Paulo que o Copom ainda está avaliando o ciclo de alta.
Esse discurso, na visão de alguns agentes do mercado, aumentou a expectativa de um novo aumento de 25 pontos-base. Atualmente, a taxa básica de juros é de 14,75% ao ano.
Entretanto, para Mathias, um novo aumento teria pouco impacto real sobre a inflação, dado o já elevado nível da Selic.
“Este ano, devemos ter uma inflação entre 5% e 6%. Talvez em 2027 consigamos nos aproximar da meta de 3%. Essa é a decisão do Banco Central. Na prática, um aumento adicional de 0,25 ponto não fará diferença”, avaliou.
Petróleo: O principal causador de inflação
Durante o mesmo painel, José Rocha, gestor e fundador da Dahlia Capital, comentou que o Copom deve começar a reduzir as taxas no final de 2025 ou no início de 2026. Ele destacou que a diminuição nos preços do petróleo pode ser um fator que favoreça esse processo.
“O principal impulsionador da inflação global é o preço do petróleo e da energia. No curto prazo, quando os preços do petróleo aumentam, as taxas de juros também sobem devido ao impacto inflacionário. Isso é algo natural”, declarou.
O gestor destacou que as decisões dos bancos centrais, em grande parte, são influenciadas pelo comportamento dessa commodity.
Neste ano, o preço do barril do tipo Brent, que serve como referência mundial, caiu de aproximadamente US$ 80 para cerca de US$ 60. Essa redução levou a Petrobras (PETR4) a diminuir recentemente o preço da gasolina vendida às distribuidoras.
Paradoxo no Brasil
Além da questão dos juros, o estrategista da Monte Bravo também destacou um descompasso entre a política monetária e a política fiscal, mencionando o que considera um “paradoxo” no Brasil. Segundo ele, o país está crescendo acima de seu potencial devido ao aumento dos gastos públicos.
“O que está ocorrendo é que, enquanto o Banco Central tenta conter a atividade econômica, o governo está incentivando a economia com auxílios, vale-gás e benefícios”, afirmou.
Mathias argumentou que os juros no Brasil deveriam estar entre 8% e 9%. Nesse contexto, ele apresentou uma perspectiva otimista para o mercado de ações, prevendo que a Bolsa brasileira poderia superar os 200 mil pontos.