No fim de maio, a fabricante chinesa BYD reduziu os preços de seus carros elétricos em até 35%, o que impactou negativamente as ações da empresa e de concorrentes como Geely, Xpeng e Nio.
O modelo compacto Seagull teve seu preço ajustado para cerca de US$ 7.500 (aproximadamente R$ 38 mil), enquanto o Seal O7 teve uma redução de US$ 6.900 no valor de tabela.
Segundo Fabio Ongaro, CEO da Energy Group e vice-presidente financeiro da Câmara Italiana do Comércio em São Paulo (Italcam), a indústria chinesa produz muito mais do que o mercado interno pode consumir, tornando necessária a exportação para outros continentes, processo que já está em andamento.
A China adota uma política industrial focada mais em aumentar seu PIB e expandir sua presença global do que em subsidiar o consumo interno. Com uma capacidade produtiva ociosa de cerca de 30% e um mercado doméstico que absorve entre 25 a 30 milhões de veículos, sobra uma grande quantidade para exportação, afirmou Fabio Ongaro em entrevista ao Mundo Conectdo.
Ele destacou que a estrutura econômica chinesa integra o Estado e as empresas de forma diferente dos países ocidentais, com múltiplos órgãos governamentais e subsídios às companhias.
Ongaro também comparou essa estratégia à do setor imobiliário chinês há 10 a 15 anos, que resultou em uma bolha. A BYD se destaca por ter investido cedo em motores elétricos e por sua origem como fabricante de baterias, não apenas como montadora. A empresa busca escoar sua produção para mercados como o brasileiro, caracterizando uma prática clara de dumping.
Os carros elétricos estão mais baratos no Brasil?
Em 2024, o Brasil comercializou 2,3 milhões de veículos leves, dos quais 2,8% eram elétricos. Embora esse percentual seja baixo, representou um crescimento de 90% nos últimos dois anos.
Segundo Ongaro, se o padrão chinês for seguido no Brasil, é esperado que modelos como o BYD Dolphin, atualmente em R$ 149 mil, sejam vendidos por cerca de R$ 110 mil ou menos, e que o Seagull chegue ao país por menos de R$ 90 mil.
“Já observamos essa tendência, com o preço do Dolphin caindo para R$ 139 mil e outros veículos, híbridos e elétricos, reduzindo de R$ 300 mil para aproximadamente R$ 240-245 mil. Isso reflete a necessidade da BYD de reduzir estoques e sua estratégia de integrar verticalmente a produção para controlar custos e suprimentos.”
A atenção para a economia da China
Para o segundo semestre de 2025, Ongaro prevê uma queda nos preços dos carros elétricos e alguns híbridos chineses. Ele também destaca a importância de acompanhar os dados econômicos da China, especialmente a dívida e possíveis riscos no setor industrial, que podem impactar o mercado automotivo global.