O UBS revisou sua recomendação para as ações da Raízen (RAIZ4), passando de compra para neutro, e ajustou o preço-alvo dos papéis de R$ 3,90 para R$ 2,30.
Essa mudança se deve à baixa geração de caixa observada nos resultados recentes (-R$ 1,50 por ação), à reavaliação da dívida que agora inclui alguns itens de capital de giro (-R$ 1,10 por ação) e à previsão de desempenhos mais modestos nas áreas de açúcar e etanol, impactadas pela redução na moagem e pela pressão nos preços (-R$ 0,50 por ação).
Os analistas do banco também destacam que o rebaixamento considera a lentidão com que a “reestruturação positiva” da empresa poderá se refletir em ganhos reais para os acionistas.
“Após um período de expansão que resultou em maior complexidade e um aumento significativo na alavancagem, passando de R$ 11 bilhões para R$ 53 bilhões apenas no último ano, somado a fatores adversos como juros elevados e desafios no setor sucroalcooleiro, a Raízen entrou em uma nova fase, com foco em otimizar sua eficiência e diminuir o custo da dívida”, afirmam Matheus Enfeldt, Tasso Vasconcellos e Victor Modanese.
Embora esse processo de desalavancagem seja promissor, o UBS acredita que os resultados concretos devem se materializar somente em um intervalo de dois a três anos.
RAIZ4: O caminho para desalavancagem
Após expandir e diversificar suas operações nos últimos anos, a Raízen encerrou o ano-safra 2024/2025 com uma dívida significativa, representando 4,6 vezes o lucro operacional (EBITDA) gerado no período.
Diante das taxas de juros em patamares elevados e margens operacionais modestas, os encargos financeiros têm impactado consideravelmente a capacidade da empresa de gerar caixa.
“Prevemos que a empresa continuará a gerar um fluxo de caixa negativo em 2025/26, estimando cerca de R$ 1 bilhão em perdas devido à liberação de capital de giro. É provável que essa situação persista também em 2026/27, com um déficit inferior a R$ 1 bilhão, antes que comece a redução da dívida nos anos subsequentes.”
Apesar disso, o UBS identifica um potencial para a geração de caixa no médio prazo, condicionado à redução das taxas de juros para menos de 12% até o final de 2026 e à manutenção dos preços do petróleo entre US$ 62 e US$ 70 por barril.
“Reconhecemos que podemos ser surpreendidos em ambas as situações, uma vez que melhorias na eficiência operacional e nos investimentos podem trazer oportunidades de crescimento,” afirmam os analistas.
O relatório aponta que a Raízen está otimizando seus investimentos e buscando maior eficiência operacional para enfrentar os desafios da recente expansão. Entretanto, além da conclusão dos projetos de etanol de segunda geração (E2G) e da geração solar distribuída entre 2025 e 2026, o UBS acredita que será difícil reduzir os investimentos abaixo de R$ 8 a 9 bilhões, devido aos altos custos de manutenção e segurança nas operações de açúcar e etanol, que estão entre R$ 6 e 6,5 bilhões.
“Observamos que há poucas possibilidades de cortes na distribuição de combustíveis no Brasil, dada a intensa concorrência no setor.”