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Taxa Selic a 15% vem aí? Mercado muda a rota e agora maioria espera aumento de 0,25 p.p no próximo Copom; entenda o que aconteceu

Comentários mais incisivos do presidente do Banco Central, juntamente com a incerteza sobre o aumento do IOF, fizeram com que os agentes financeiros reavaliem suas previsões.6

A situação mudou. A maioria dos participantes do mercado financeiro agora está prevendo mais um aumento na taxa Selic durante a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, agendada para os dias 17 e 18.

De acordo com as opções de Copom negociadas na B3, a expectativa de um aumento de 0,25 ponto percentual na Selic subiu para mais de 60% na véspera (5), em comparação a menos de 30% uma semana atrás.

As previsões mudaram drasticamente, com a expectativa de manutenção da taxa caindo para menos de 30%, após ter ultrapassado 80% na semana anterior.

A alteração nas expectativas do mercado financeiro reflete duas situações recentes que ganharam destaque.

A primeira diz respeito à mudança na percepção do mercado em relação à postura do governo federal sobre o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).

A segunda é a abordagem mais rigorosa adotada pelo Banco Central, que se concentra na resiliência da economia e na meta de controlar a inflação.

O bode na sala chamado IO

Primeiramente, o governo anunciou um aumento do IOF para diversas operações financeiras, incluindo empréstimos, crédito e transferências internacionais.

Em seguida, houve uma retratação parcial em relação às remessas, com a redução da alíquota para investimentos no exterior feitos por pessoas físicas e a isenção para investimentos em fundos no exterior.

Após essa situação gerar uma crise de imagem e causar divergências com o Congresso e o Banco Central, o governo decidiu que iria apresentar um pacote de medidas para substituir o aumento do IOF.

No entanto, o anúncio que estava previsto para quarta-feira (4) foi adiado para o próximo domingo (8).

Todo esse vai-e-vem não poderia resultar em um desfecho positivo. A confiança do mercado na postura do governo em relação às contas públicas foi severamente abalada, levantando preocupações sobre o que pode ser incluído nesse pacote alternativo.

A mudança nas projeções para a taxa Selic ocorreu exatamente na quarta-feira em que o anúncio das novas medidas foi postergado.

O crescimento da incerteza em torno do assunto levou os agentes financeiros a acreditarem que o Banco Central precisará adotar uma postura mais rigorosa em relação aos juros, a fim de controlar possíveis pressões inflacionárias e fortalecer a confiança, ao menos em um dos lados da questão.

Galípolo segura as pontas

As declarações do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, impulsionaram essa alteração na trajetória da Selic.

Nesta semana, Galípolo destacou que a economia brasileira tem demonstrado uma resiliência surpreendente e que não é o momento apropriado para discutir uma flexibilização da taxa.

“Estamos em uma fase anterior, analisando o ciclo de alta e as decisões que devemos tomar”, afirmou durante um evento realizado pelo Centro de Debate de Políticas Públicas (CDPP) em São Paulo, na segunda-feira (2).

Nesse mesmo evento, ele mencionou que a Selic já se encontra em um nível contracionista, independentemente da taxa neutra, indicando que essa “medida” eventualmente surtirá efeito e ajudará a trazer a inflação de volta para a meta.

Teoricamente, uma taxa de juros contracionista é aquela que, quando ajustada pela inflação, está acima da taxa neutra.

Atualmente, a taxa neutra estabelecida pelo Banco Central é de 5%. No entanto, alguns economistas defendem que a taxa neutra no Brasil pode ser mais elevada, variando entre 6% e 7%.

No momento, a taxa de juros real está em 9%.

De acordo com Galípolo, a atual taxa Selic tem o objetivo de seguir a meta de inflação e também de estabilizar as expectativas.

“É um verdadeiro jogo de repetição e você conquista credibilidade quando suas ações e declarações estão alinhadas na busca pela meta”, concluiu.

Selic vai a 15% ao ano?

Em entrevista ao Seu Dinheiro, economistas já haviam destacado a necessidade de um novo aumento nas taxas de juros para estabilizar as expectativas e fortalecer a confiança no mercado.

“Os riscos inflacionários permanecem significativos, especialmente devido ao PIB ainda positivo, à persistência da inflação nos serviços e à pressão que os salários exercem sobre os custos”, afirma Arnaldo Lima, economista da Polo Capital.

Na visão do economista da Polo, os sinais de desaceleração econômica que alguns analistas apontam são bastante iniciais. Para ele, a política monetária ainda não chegou ao seu nível máximo de restrição.

Essa perspectiva é compartilhada por André Leite, CIO da TAG Investimentos.

“O suporte fiscal do governo Lula está mantendo a atividade econômica e elevando a inflação. Em uma situação econômica normal, o Brasil já deveria estar enfrentando uma recessão com uma taxa real próxima de 9%”, comenta Leite.

As expectativas mudaram e o volume de contratos negociados aumentou consideravelmente nesta semana. Alguns analistas acreditam até em um aumento mais expressivo da Selic, de 0,50 ponto percentual.

Faltando pouco mais de uma semana para a reunião do Copom, ainda há o pacote substitutivo do IOF, o IPCA de maio e as reações do mercado a todos esses fatores.

Mais uma vez, tudo promete ser emocionante.

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