A decisão do Copom, anunciada na quarta-feira, de aumentar a Selic em 25 pontos-base e sinalizar a pausa nas elevações dos juros, embora possa ser retomada no futuro, deve levar a um aumento nas taxas dos DIs de curto e médio prazo, segundo especialistas consultados pela Reuters. Os ajustes mais significativos devem ocorrer nos vencimentos até janeiro de 2027.
Com a Selic elevada para 15,00% ao ano, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central também indicou que pretende manter essa taxa na reunião programada para o final de julho, a fim de avaliar o cenário econômico. No comunicado, o BC deixou em aberto a possibilidade de novos aumentos da Selic, se necessário.
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No mercado de DIs (Depósitos Interfinanceiros), antes da reunião, a curva já indicava uma maior probabilidade de um aumento de 25 pontos-base na Selic, o que realmente aconteceu, mas as expectativas de manutenção da taxa também eram consideráveis.
Diante disso, Flavio Serrano, economista-chefe do Bmg, prevê que as taxas dos DIs de curto e médio prazo devem aumentar na sexta-feira após o feriado, com os contratos até janeiro de 2027 apresentando elevações mais acentuadas e uma alta um pouco menor a partir de janeiro de 2028.
“Até janeiro de 2027, pode haver um aumento de 10 a 15 pontos-base, enquanto a alta em 2028 será um pouco inferior”, comentou.
Pausa nas altas
Os ajustes na curva de juros considerarão que, segundo o comunicado do Banco Central, houve uma pausa nas elevações da Selic, mas a possibilidade de retomada não está descartada, dependendo das condições do mercado. Isso sugere que um novo ciclo de cortes na taxa pode começar apenas em 2026, ao invés do final de 2025, como ainda projetam algumas instituições.
Ian Lima, gestor de Renda Fixa Ativa da Inter Asset, comentou que a parte mais curta da curva pode sofrer elevações, especialmente nos contratos para janeiro de 2026 e janeiro de 2027, já que o mercado precificava cortes iminentes. O comunicado do Copom, portanto, adianta os cortes para um momento posterior.
Conforme sua análise, a estrutura da curva sugere que nos contratos de longo prazo, o impacto do Copom pode resultar em uma leve queda nas taxas ou em um aumento menos acentuado. Isso se deve ao fato de que os DIs de longo prazo são mais influenciados por fatores externos, como os movimentos dos Treasuries, além das questões fiscais do governo Lula.
Fábio Kanczuk, diretor de macroeconomia do ASA e ex-diretor de Política Econômica do Banco Central, afirmou que a parte curta da curva deve realmente ser ajustada para cima, visto que muitos investidores esperavam a manutenção da Selic.
Entretanto, ele observou que a expectativa do mercado não é de um prolongado período com juros a 15,00%, o que pode levar à queda na parte longa da curva. “Os juros para 1 ou 2 anos à frente não ficarão nesse patamar de 15%, mas sim em um nível inferior. As pessoas já estão antecipando cortes e continuarão a fazer isso”, concluiu.
Impacto também no câmbio
A elevação da Selic para 15,00% pode influenciar o mercado cambial, segundo alguns especialistas. Isso se intensifica após o Federal Reserve ter indicado a possibilidade de um ou dois cortes de 25 pontos-base em sua taxa, que atualmente varia entre 4,25% e 4,50%.
Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master, comentou que se o Fed reduzir a taxa para 4% no segundo semestre e o Copom mantiver a Selic em 15%, haverá um diferencial de 11 pontos percentuais, o que é significativo. Isso deve fortalecer o real, resultando em sua valorização nos próximos dias.
Serrano, do Bmg, acredita que a tendência de queda do dólar em relação ao real está em andamento e que a decisão do Copom contribui para essa dinâmica. Ele observa que o real tem potencial para continuar se valorizando.